Pedagogia transformadora

Pedagogia transformadora

A troca de experiência, o respeito ao trabalho dos outros, a abertura ao aprendizado, o diálogo, são valores pedagógicos fundamentais.

Educação para Paulo Freire é um ato político. Portanto não é neutra. O trabalho formativo é voltado para a transformação da realidade. A manutenção da realidade tal como está, serve aos dominadores. Nós queremos transformá-la, de maneira que todas as pessoas tenham vida digna e possam ser felizes.

Para os dominadores, o povo é analfabeto, ignorante, bárbaro e a educação viria então para domá-lo. Esta é a ideia, a cultura política que invadiu a cultura pedagógica e adentrou às escolas. Nosso trabalho formativo não será para domar o povo, ao contrário. Será para que ele entenda que a violência, a miséria e a infelicidade no meio do que ele vive, não é uma fatalidade. Elas têm uma causa e é esta causa que precisa ser descoberta, compreendida e combatida.

Para Paulo Freire, a educação tem que desvelar a realidade e isto não pode ser feito apenas através da transmissão de conteúdos científicos. Muitas vezes corremos o risco de reproduzir valores pedagógicos autoritários, mesmo transmitindo conteúdos críticos. Mudamos os conteúdos, mas mantemos a postura, diz Miguel Arroyo. Trocamos as mentiras da burguesia pelas nossas verdades. Isto é errado!

Educação não é transmissão de conhecimentos – ainda que com conteúdos críticos. Educação é uma relação entre pessoas, sobretudo uma relação entre gerações. É uma troca. Não há ninguém que saiba tudo, assim como não há ninguém que não saiba nada. O povo tem saberes, ele não é tábua rasa. O educador tem que crescer como sujeito e a educação é uma empreitada a pelo menos dois. A conduta é reconhecer que o povo é sujeito e tem saberes.

O desafio do formador, do educador popular, é captar as redes sociais onde estes saberes são construídos e reproduzidos de geração para geração. Em qualquer comunidade, bairro, há uma rede de trocas e há mestres. Quem são estes mestres? Como se relacionam entre si e com a comunidade? Mais importante do que os saberes de cada um deles é compreender estas relações, as redes sociais de trocas de saberes através das quais estão fortemente amarrados valores e identidades. Há um tecido social pedagógico-educativo, onde seres humanos se constroem, se destroem, constroem suas identidades, seus valores. Temos que entender os pontos de encontro destas redes para reforçá-las e construirmos o Projeto Histórico Popular.

Um valor fundamental na pedagogia de Paulo Freire é o caráter coletivo do projeto educativo. O ser humano só se educa em relação com outros seres humanos. Só aprende a ser humano, aprendendo o significado que outros seres humanos dão à vida, à terra, ao amor. Daí a importância de compreender o caráter ritual do projeto educativo, dos símbolos, da mística.

A compreensão do caráter coletivo e ritual do processo educativo, nos leva a resgatar o que há de mais forte nele que é a cultura popular. Educação e cultura têm que ser recuperadas como vínculo estreito. Estudo e produção da vida fazem parte do mesmo processo de humanização. Assim como também fazem parte do processo de humanização a luta por direitos iguais e o respeito à diversidade.


Parte do texto organizado por Ana Inês Souza, a partir da fala do professor Miguel Arroyo, no Curso Nacional de Formação de Formadores da Consulta Popular, Ibirité, MG, fevereiro/2000.
Do livro: "Paulo Freire Vida e Obra", Editora Expressão Popular.
Pedagogia transformadora Pedagogia transformadora Revisado by tautonomia em 13:15:00 Avaliação: 5
Tecnologia do Blogger.