Silêncio, por John Cage

John Cage

Onde quer que estejamos, o que ouvimos na maior parte do tempo é ruído. Quando ignoramos ele nos perturba. Quando escutamos, achamos fascinante.

O som de um caminhão a cinquenta quilômetros por hora. Estático entre as estações. Chuva. Queremos capturar e controlar estes sons, não como efeitos sonoros mas como instrumentos musicais.

O Theremin é um instrumento genuíno e provido de novas possibilidades. Os tocadores de Theremin fizeram o máximo para extrair do instrumento sonoridades aproximadas as notas antigamente convencionais, dando a elas um vibrato estranhamente doce, se esforçando para realizar com este obras-primas do passado. Embora o instrumento é capaz de uma grande variedade de qualidades de som, os tocadores de Theremin agem como censores, dando ao público os sons que eles acham que o público vai gostar. Estamos protegidos de novas experiências sonoras.

Quando permitirmos que todos os sons possam ser executados, para fins musicais, sejam por meios mecânicos, elétricos ou sintetizados, tudo será explorado. Considerando que, no passado, o ponto de desacordo era entre a dissonância e a consonância, será num futuro próximo, entre ruídos e os chamados "sons musicais".

Os métodos atuais de se escrever música, principalmente os que empregam o uso da harmonia e referências a medidas concretas para o domínio do som, será inadequado para o compositor. Ele vai se deparar com uma gama enorme de possibilidades de sons.

A percussão é uma transição contemporânea que influencia a concepção de todo som do futuro. Qualquer som é aceitável para o compositor de música de percussão, ele explora o academicamente o proibido, o campo de som "não-musical", na medida em que lhe é possível manualmente.

Uma ação experimental é resultado do que não está previsto. Essa ação não está preocupada com intenções. Como a terra, como o ar, ela não precisa de nada. Uma performance de uma composição que é indeterminada, o seu desempenho é necessariamente único. Ele não pode ser repetido. Quando realizado por uma segunda vez, o resultado já é outro que não corresponde ao anterior.

Qual é a natureza de uma ação experimental? É simplesmente uma ação cujo resultado não é previsto. Mais essencial do que compor por meio de operações de oportunidades, é compor de modo que o que se faça seja indeterminado em seu desempenho. Nesse caso pode-se trabalhar apenas diretamente, para nada que dê origem a algo que seja preconcebido.

"Tudo o que fazemos é música."
(John Cage)

Fragmentos do livro:
Silêncio - palestras e anotações por John Cage, 1961.
Silêncio, por John Cage Silêncio, por John Cage Revisado by tautonomia em 14:19:00 Avaliação: 5
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