Tantas coisas contêm em si
o acidente de perdê-las,
que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia.
Aceite, austero, a chave perdida,
a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero lembrar
a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas
e um império que era meu,
dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você
(a voz, o riso etéreo que eu amo)
não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder
não chega a ser mistério
por muito que pareça
muito sério.
(Elizabeth Bishop)
A arte de perder
Revisado by tautonomia
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10:45:00
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